quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ética sem nhém, nhém, nhém

Dias atrás, me solicitaram escrever sobre ética. Não escrevi, ainda. Mas trago um texto do Eugen sobre o tema o qual apreciei e quero agora dividir com você.

“Pode haver no mundo coisa mais prática do que aprender a viver do melhor modo possível?” A afirmação disfarçada sob a forma de pergunta capta a força oculta que move os personagens do romance O Fio da Navalha de Somerset Maugham: encontrar respostas próprias para o sentido da própria vida, mesmo que aos trancos e barrancos.

É disso, justamente, do que se ocupa a ética, ou seja, de como viver da melhor forma possível consigo mesmo e com os outros, e deixar um legado positivo para as próximas gerações. O escopo torna a ética numa disciplina prática de cunho existencial, para usar um termo mais sofisticado.

Frente ao desafio da qualidade de vida, as pessoas costumam reagir de três formas distintas. Em primeiro lugar estão aqueles que acreditam que conhecem o suficiente da vida e se aventuram a dar conselhos morais a torto e direito. Logo a seguir vêm os que têm dúvidas sobre o significado de viver eticamente no mundo moderno e evitam palpitar na vida alheia. E, por último, há uma minoria que desconfia que não exista uma única resposta e sim respostas possíveis e aperfeiçoáveis.

Por uma questão de lógica e de valores pessoais, simpatizo com os últimos. Não gosto de colocar o carro das respostas antes do boi das questões. É estranho ter uma resposta inteligente antes de conhecermos a situação concreta e formularmos as perguntas pertinentes. Este é o maior defeito da ética doutrinária: reivindicar a existência de um gabarito moral antes de as questões terem sido colocadas sob a mesa.

Para evitar essa armadilha sugiro que enxerguemos a ética como um método de análise de problemas e situações que busca promover valores e interesses comuns. Ou seja, antes de julgar, absolver ou condenar, convém examinar as questões concretas, identificar os problemas reais (atuais) e potenciais (futuro), cotejar as soluções possíveis, examinar as verdadeiras restrições e, aí sim, definir um curso de ação que otimize os benefícios para as partes direta ou indiretamente envolvidas na situação.

O moralista, por exemplo, condena o ato de mentir e ponto final! Será? Uma coisa é mentir para tirar vantagem ou prejudicar outrem. Outra coisa é mentir para salvar a própria pele ou a pele da família. Ou será que se eu disser a um assaltante que não tenho família para poupá-la, estarei efetivamente (e apenas) mentindo?
Pelas regras do bom senso, a resposta é não!

Sucede que existe um conflito latente entre os conceitos ou categorias que empregamos para conhecer e expressar a realidade e a própria realidade. O conceito mentira é unívoco e condenado. Porém, a vida é mais complicada a ponto de chegarmos a admitir que quem mente, nem sempre está mentindo.

O que fazer?

Bem.., que tal menos abstração e mais fatos; mais vida, mais realidade nas nossas conjecturas morais? Não chegaria a ponto de defender que os fins justificam os meios, porém, defendo que a escolha inteligente é aquela que induz à ação que gera conseqüências positivas para o maior número de pessoas possíveis, ou minimiza os danos na mesma escala para gente direta e indiretamente envolvida.

Sim, caro leitor, ética exige uma qualidade que podemos chamar de sabedoria existencial que, por sua vez, exige resultados palpáveis no lugar da retórica. Então, ser ético é ser capaz de atingir os objetivos próprios (ou compartilhados) sem prejudicar ninguém (incluindo a si) psicológica, social ou materialmente. Salvo, é claro, as exceções de agir em legítima defesa física ou psicológica.

Como declamou o nosso querido poeta Carlos Drumonnd, procure entender que “é dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”. O mesmo sucede com a ética: a resposta que procuramos nem sempre está no manual, e sim, dentro da nossa vida vivida.

Eugen Pfister
Consultor Especialista em Liderança e Desempenho Humano

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